quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Pouca coisa de novo no Front

Por José Attico

A Câmara cassou, por unanimidade, o mandato do prefeito Jorge Mário. Há possibilidade de recursos na Justiça, mas é muito pouco provável que o agora ex-prefeito queira se aventurar novamente a assumir o cargo. Jorge Mario tem uma personalidade quase psicótica e sua relação com a segurança pessoal fica próxima da paranóia. É possível que o prefeito cassado ontem evite aparecer publicamente na cidade por um bom tempo.

Jorge Mario sai e muita gente boa, inclusive jornalistas sérios, acredita que o eleitor local vai repensar sua postura daqui por diante. Ou seja, haverá uma nova tendência e os eleitos no final do próximo ano serão melhores do que a rapaziada que entrou em 2008. É difícil. Afinal as práticas políticas vigentes se relacionam com um cenário de pobreza e baixos níveis de educação. É possível que as regras do jogo estejam começando a ser alteradas, mas é provável que na próxima eleição ainda prevaleçam o clientelismo & práticas afins.

Os que acreditam em mudanças importantes no voto de 2012 chamam a atenção para a importância das redes sociais. No caso exemplar, da mobilização para exigir a saída de Jorge Mario. Não há dúvidas de que a internet está mudando a vida das pessoas, mas é preciso caminhar com algum cuidado nessa área. Mesmo sem internet - o que significava o domínio total da mídia corporativa sobre corações e mentes - milhões de brasileiros foram às ruas, na década de 80, para exigir “Diretas Já.”

Por outro lado, no final do governo Lula, um movimento que utilizou amplamente a internet para tentar afastar o petista do poder – o “Cansei” ou algo parecido - não despertou o mínimo interesse da população e sequer conseguiu produzir comícios em praça pública. Há duas questões a serem consideradas. Em primeiro lugar é preciso saber quem, exatamente, usa as redes sociais e para quê? Há uma tendência, produzida pelas agências de publicidade, de priorizar generalizações do tipo “a mulher brasileira...”, “os jovens”, etc, etc.

São generalizações para estimular o mercado e vender produtos, geralmente para a classe média alta. E só. Não existe “a mulher brasileira” e sim uma extensa gama de mulheres brasileiras, a maioria delas chegada, de dez anos para cá, ao consumo de massa, como classificava o francês Edgar Morin. Boa parte da “mulher brasileira” ainda vai continuar em níveis de pobreza que impossibilitam sua ascensão aos cosméticos da Natura ou da O Boticário para dar um exemplo simples.

E aí uma segunda questão: esse extrato da população brasileira – que sofre, é claro, a influência da classe média emergente – com baixos níveis de instrução e renda - vai realmente mudar seu comportamento eleitoral? Ou a presença da troca de votos por tijolos, telhas, empregos, ainda continuará importante na vida dessas pessoas?

É possível que, em regiões onde o PIB e os níveis de informação são mais altos, como as capitais brasileiras, o comportamento político comece a passar por mudanças de peso. Mas é muito pouco provável que em pequenas cidades, com PIB relativamente baixo como Teresópolis, esse “novo comportamento” se traduza nas urnas.

Os leitores de blogs sites e o pessoal das redes sociais vão, sem duvida, alguma acrescentar novas tintas ao próximo pleito eleitoral. Mas é difícil imaginar uma ligação direta entre os moradores de prédios de luxo no Alto, em Agriões e casas da região do Comary, Iucas, Panorama, com os habitantes do Perpétuo Socorro, Rosário, Fonte Santa e Quinta Lebrão. São mundos próximos e distantes. Com interesses que chegam à periferia do conflito.
Por enquanto não há muita coisa de novo no front.